6 de ago. de 2025
A transformação da carreira jurídica
Não é exagero dizer que a inteligência artificial é o motor de uma revolução na carreira jurídica. Se você ainda não leu o relatório do LegalTech Fund, construído em parceria com Goodwin e Hotshot, leia. Basicamente, o maior fundo de legaltechs do mundo reuniu grandes nomes do setor para debater o futuro da profissão e dos organogramas de escritórios de advocacia, especialmente sob as perspectivas de educação e treinamento jurídico. A conclusão do estudo é clara: sim, o organograma do seu escritório vai ser impactado.
A transformação da carreira jurídica: menos repetição, mais estratégia
Empresas não estão mais dispostas a pagar por tarefas rotineiras de copia e cola. Essa pressão, que só tende a se intensificar com a IA, está tornando essas tarefas tradicionais praticamente obsoletas. A expectativa é que a tecnologia assuma uma parcela significativa dessas atividades, dificultando o faturamento dos escritórios por esse tipo de trabalho. Como isso impacta o início da carreira jurídica?
O relatório aponta para, na verdade, uma necessidade de adaptação a novas competências-chave que serão indispensáveis para essas pessoas, para além do conhecimento legal: proficiência técnica, o que envolve - vejam só! - a fluência em ferramentas de IA; habilidades humanas, como inteligência emocional, comunicação assertiva e desenvolvimento de negócios; visão crítica sobre a IA jurídica, sabendo como e quando confiar em seus outputs, sempre com a devida verificação; e a compreensão da variabilidade, que é entender que a aplicação e os resultados da IA podem variar entre diferentes firmas.
Impacto da IA na carreira jurídica em todos os níveis
Se engana quem pensa que a IA impactará apenas os recém-chegados. A mesma exigência de adaptação será imposta aos profissionais que hoje estão no meio e no topo da pirâmide de talentos.
O papel de cada um
Advogadas e advogados os de nível médio e sênior também verão seus papéis se expandirem para além das tarefas jurídicas tradicionais. Eles precisarão abraçar responsabilidades mais amplas, focadas na integração de ferramentas de IA e na supervisão tanto do trabalho dos juniores quanto dos resultados gerados pela IA generativa.
Até mesmo sócias e sócios não ficarão imunes a essa transformação. Eles enfrentarão expectativas de clientes mais amplas, agindo como consultores estratégicos com insights específicos da indústria, e não necessariamente apenas conhecimento técnico. A mentoria, antes focada em treinamento observacional, será redefinida, priorizando o ensino de julgamento e tomada de decisões em um ambiente cada vez mais complexo.
Qual será, então, a nova estrutura organizacional dos escritórios de advocacia? E qual o papel da IA nessa transformação da carreira jurídica?
Capacitação contínua: o pilar da carreira jurídica
Sabemos que a jornada da IA ainda está em seus estágios iniciais e que o desafio é longo. O CLOC Insights Report de 2025 revela que, embora 38% das decisões dos departamentos jurídicos já sejam influenciadas pela IA, 70% dos entrevistados reportaram treinamento insuficiente em IA dentro de suas próprias equipes. Isso significa que, apesar da crescente influência da tecnologia, a capacitação ainda não acompanhou o ritmo.
O treinamento em IA continua sendo um gargalo significativo, como aponta o relatório da Thomson Reuters de 2025: menos de um terço das organizações oferece treinamento em IA generativa, e quando há, geralmente ocorre apenas na implementação inicial, não sendo algo contínuo. O dado é impactante: apenas 4% das firmas treinam seus profissionais somente quando necessário ou uma vez por ano, e meros 9% o fazem mensalmente ou com frequência.
Vivemos em um cenário de transformações aceleradas – basta lembrar que o ChatGPT foi lançado há pouco mais de dois anos. Nesse ritmo vertiginoso, esperar para agir já não é uma opção viável. A capacitação em IA precisa deixar de ser uma iniciativa pontual e passar a ser uma prática estratégica, contínua e profundamente integrada à cultura organizacional. Só assim será possível converter o potencial da IA em resultados concretos para o universo jurídico.
Para além da tecnologia
A verdadeira inovação no setor jurídico vai além da tecnologia. Ela começa com uma mudança de mentalidade: a capacidade de reenquadrar desafios como oportunidades, de desaprender e reaprender constantemente. O treinamento e consequente uso de IA deve acompanhar essa lógica — não pode ser um evento isolado.
Deve ser um processo permanente, alinhado à evolução constante da própria tecnologia - e contando com os parceiros corretos para que esse processo seja menos doloroso, tanto do ponto de vista ferramental como educacional. Sim, sair da zona de conforto costuma doer - e ter ajuda de especialistas no tema é um valioso analgésico.
Liderando a carreira jurídica na era da IA
A revolução da IA no direito não representa uma ameaça, mas uma oportunidade histórica de reinvenção. Advogadas e advogados que compreenderem essa nova dinâmica e investirem no desenvolvimento das competências certas não apenas acompanharão o futuro — irão liderá-lo.
E não tem problema algum assumirmos essa condição: o estagiário Rafael, que teve que ser ensinado a fazer pesquisa de jurisprudência na Revista dos Tribunais, folha a folha, agora não precisa mais tanto dessa competência. E tá tudo bem.
Todas as indústrias passam por isso de tempos em tempos, chegou a nossa vez. A pergunta que fica é: pra você, qual será o novo formato de estrutura organizacional e progressão de carreira jurídica no mundo da IA?
Leia mais: O impacto da IA no Direito que não podemos ignorar