6 de ago. de 2025

A IA vai roubar meu emprego?

prédios em formatos de ondas ao lado da foto de um dos fundadores da Inspira
prédios em formatos de ondas ao lado da foto de um dos fundadores da Inspira

Ainda escuto dizerem por aí que a advocacia será transformada pela IA, como se isso ainda fosse acontecer. Como se não passasse de um hype. A verdade é que esse futuro já é o nosso presente. Ela já faz parte do dia a dia de muitos advogados e advogadas ao redor do globo — mesmo que você (ainda) não a utilize, provavelmente quem estudou com você na Faculdade de Direito ou mesmo o seu concorrente está usando, sem o receio de que a IA irá roubar seu emprego. 

Recentemente, uma das maiores legaltechs do mundo, a Clio, publicou o seu relatório anual de tendências no setor jurídico, o Clio Legal Trends Report. Um dado em específico me deixou de cabelo em pé (o pouco que ainda me resta): diz o relatório que  74% - quase três quartos! - das atividades feitas por um profissional do Direito já são passíveis de automação. 

Sim, isso mesmo. 

Depois do choque inicial, minha imaginação fértil me fez voltar aos tempos de advogado tributarista e me rememorou um cenário que muitas vezes acontecia:

Imagine que você, profissional do Direito, trabalhe com outros 3 colegas de senioridades diferentes e que cada um execute uma tarefa específica para entrega daquele determinado documento para um cliente. Neste relatório, entendemos que agora bastaria apenas uma pessoa e um ou mais robôs para a entrega do mesmo trabalho.

E aí? O que fazer?

O benefício principal da utilização correta desse tipo de tecnologia é evidente: aumentar a produtividade, o que, para um serviço que ainda é cobrado por hora, significa aumento de margem e do valor percebido pelos clientes. 

Isso sem falar do tempo que sobra para que nos concentremos nas atividades que exigem exatamente o que temos de melhor: a avaliação jurídico-estratégica, a criatividade na resolução de problemas e o atendimento personalizado.

O impacto da IA no Direito

Graças aos LLMs — Large Language Models, modelos de linguagem, conseguimos automatizar atividades que exigem tempo, organização ou tratamento de um grande volume de documentos, liberando espaço para que advogadas e advogados se dediquem às atividades de maior complexidade. 

Todo esse potencial de máquinas se traduz em velocidade na execução das tarefas — exatamente o que faz a diferença na competição por um atendimento cada vez melhor, em um mundo que quer tudo pra ontem.

A mudança, portanto, é real. E a hora de embarcar é exatamente agora.

Os dados provam 

Os números estão mostrando mais uma vez essa necessidade de rapidez. Ao nos depararmos com o gráfico da Bond Capital - AI Trends, que correlaciona o custo das tecnologias ao longo do tempo, vemos a mesma jornada nos diferentes processos de inovação: enquanto o custo cai exponencialmente, a eficácia aumenta na mesma velocidade. Com a IA, essa mesma dinâmica se torna ainda mais acentuada. A OpenAI demorou dois reveillóns para fazer o que a humanidade fez com a eletricidade em sete décadas.

Isso quer dizer que temos nas mãos uma combinação rara: maior eficácia junto de um custo cada vez menor — exatamente a combinação que costuma, historicamente, representar a transformação de determinados setores. 

E dessa vez estamos falando de uma máquina que lida (muito) bem com textos - sim, os LLMs são modelos de linguagem, e é isso o que permite que advogadas, advogados, escritórios e empresas se tornem mais eficientes, aumentando seu diferencial competitivo.

O avanço da tecnologia

Para nenhuma surpresa, inclusive, ela - a máquina - está cada vez mais inteligente e capaz de lidar com mais e mais textos. É exatamente essa dinâmica que o gráfico do Geoffrey Hinton at Collison (2023) revela: o crescimento exponencial na quantidade de parâmetros das redes neurais, aumentando a cada nova versão, do GPT-1 ao GPT-8.

Saímos de algumas poucas centenas de milhões de parâmetros nas primeiras redes para trilhões nas últimas — enquanto nos aproximamos, a cada nova versão, da complexidade do cérebro humano.

Isso quer dizer que o modelo que temos nas mãos hoje representa, talvez, apenas o começo. Supostamente ele será inteligente o suficiente para, se bem refinado, trabalhar como um advogado médio.

Ainda temos um caminho cheio de possibilidades

Existe um espaço enorme para que essa parceria entre humanos e máquinas vá muito além das atividades já automatizadas, aumentando ainda mais a eficácia do trabalho jurídico — tudo enquanto liberamos advogadas e advogados para se concentrarem em questões estratégicas, nas mesas de negociações e nas relações interpessoais.

Mesmo dentro dessa linha de raciocínio, costumam me perguntar: e aí, Rafa, nós advogados seremos substituídos então? Essa tal máquina vai tomar o nosso trabalho?

A IA vai roubar meu emprego?

Uma história para exemplificar

Mais do que a minha opinião, o mais importante é aprendermos com quem já está na dianteira dessa transformação. É o caso da XP, que entendeu rápido o papel estratégico da IA para revolucionar seu trabalho e seus resultados.

Antes da adoção da Inspira, a XP gastava cerca de 5 horas por dia apenas para lidar com milhares de citações e intimações físicas — um processo manual de análise e distribuição para advogadas e advogados externos que consumia tempo e recursos valiosos.

Juntos, co-criamos uma solução que encurtou etapas longas e burocráticas. Hoje, basta compilar e fazer o upload dos documentos para a ferramenta analisar automaticamente.

O resultado? O tempo dedicado a esse processo caiu para apenas 1 hora por dia, uma economia de 80% no uso do tempo — liberando a equipe para focar em atividades mais intelectuais, estratégicas e integradas, que realmente agregam valor ao trabalho jurídico.

A inteligência artificial já não é mais uma promessa distante, mas uma realidade concreta que está remodelando o universo jurídico. O case da XP com a Inspira nos mostra que não basta apenas reconhecer esse movimento — é preciso agir, aprender e se adaptar rapidamente.

A conclusão disso tudo 

A conclusão de tudo isso é simples: quem domina essa parceria entre o humano e a máquina - assim como fizemos nas últimas grandes revoluções de produtividade - ganha liberdade para focar no que realmente importa.

E a resposta, então, para a pergunta dos parágrafos anteriores: você e eu não seremos substituídos por uma IA - mas talvez por alguém que sabe usá-la melhor do que nós.