Sep 30, 2025
O risco dos erros de IAs genéricas na advocacia
A inteligência artificial está transformando a maneira como trabalhamos, e o setor jurídico não é exceção. IA genéricas, como chatbots amplamente conhecidos, prometem otimizar tarefas e agilizar a rotina. Contudo, a confiança inquestionável nessas tecnologias pode levar a um dos maiores perigos para a prática jurídica: a invenção de jurisprudência e fontes. Os erros dessas IAs vão além de simples equívocos, podendo criar precedentes e decisões judiciais que nunca existiram.
Esses erros factuais, conhecidos como alucinações, representam um risco direto à credibilidade de advogadas e advogados. Uma petição fundamentada em uma decisão fictícia não apenas enfraquece o argumento, mas também pode levar a sanções e à perda da confiança do cliente.
A anatomia dos erros de IAs genéricas
As IAs generativas, como os modelos de linguagem que alimentam os chatbots populares, são treinadas com um vasto volume de dados da internet. Seu objetivo principal é prever a próxima palavra em uma sequência para construir frases coerentes e contextualmente relevantes. Elas são projetadas para serem criativas e conversacionais, e não para serem factualmente precisas em domínios especializados como o Direito.
Quando um profissional jurídico pergunta a uma IA genérica sobre uma tese ou busca por jurisprudência, a plataforma não consulta uma base de dados jurídica em tempo real. Em vez disso, ela tenta construir uma resposta que pareça correta. Se não encontrar informações precisas, ela pode alucinar — ou seja, inventar nomes de partes, números de processos e até mesmo o teor de decisões judiciais.
O resultado é uma resposta bem escrita e convincente, mas completamente falsa. Este é o principal risco: a IA genérica não informa que está inventando. Ela apresenta a informação como se fosse um fato verídico, induzindo o profissional ao erro.
Apesar dos esforços de engenharia, a alucinação parece ser uma falha inerente aos Modelos de Linguagem Grandes (LLMs). Uma pesquisa de uma bigtech de IA indica que a alucinação continuará a ocorrer devido a restrições matemáticas fundamentais na forma como esses modelos são construídos:
A IA funciona por predição estatística e, em vez de admitir a incerteza, ela chuta para fornecer uma resposta fluente, mesmo que falsa.
A IA não consegue refletir ou discernir de forma sábia a veracidade de suas próprias declarações, o que impede que o problema seja totalmente resolvido apenas com a melhoria dos dados de treinamento.
O perigo dessa falha sistêmica se torna ainda mais alarmante quando a teoria encontra o mundo real do Judiciário. Não se trata de um risco hipotético, mas de uma ameaça já concretizada. Os efeitos da alucinação no Direito, antes uma preocupação de bastidores, hoje se manifestam em processos, petições e até mesmo em decisões judiciais, conforme demonstram os casos notórios que já vieram à tona.
O risco já é real
Casos de advogados que utilizaram jurisprudência inventada por IAs genéricas já se tornaram públicos em todo o mundo, servindo de alerta para a comunidade jurídica. Em um caso notório no Brasil, a Corregedoria-Geral da Justiça do Maranhão (TJ/MA) instaurou uma sindicância para investigar um Juiz que teve sua produção mensal de sentenças saltar de uma média de 80 para impressionantes 969 em apenas um mês, um padrão de trabalho atípico que levantou suspeitas de uso inadequado de IA.
A investigação revelou falhas graves nas decisões proferidas, incluindo sentenças sem fundamentação e a aplicação de precedentes inexistentes — a manifestação clara de uma alucinação de IA no mundo real. Esse caso sublinha que a busca por ganhos radicais de produtividade por meio da IA, sem o rigor da supervisão e da verificação humana, pode minar a segurança jurídica e a credibilidade do sistema de justiça, transformando a eficiência em uma fonte de erros perigosos.
Mais casos reais
A interrogação sobre a autenticidade judicial avança ainda mais com o caso em que um advogado recorreu a um chat de IA generativa para contestar uma sentença desfavorável no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). O advogado solicitou a anulação da decisão sob o argumento de que ela violava o princípio do juiz natural por ter sido elaborada por IA.
A análise do chatbot indicou uma probabilidade "média a grande" de autoria artificial, citando a "estrutura técnica e formal" e a "linguagem jurídica complexa" como indícios de que o texto não teria sido elaborado por trabalho humano. Embora o recurso tenha sido negado sob a justificativa de que a acusação carecia de "indícios reais" de uso antiético, o episódio expõe a nova fronteira da litigância: onde advogadas e advogados buscam soluções para fiscalizar a autenticidade das decisões, alertando para o risco de um viés algorítmico tendencioso na máquina que, em tese, deveria garantir a igualdade perante a Lei.
As consequências de fundamentar uma petição ou parecer em dados falsos vão muito além de um simples erro de digitação, abalando as estruturas da prática profissional.
O preço da imprecisão
Em primeiro lugar, o erro atinge diretamente a credibilidade e a ética profissional. Apresentar a um Juiz uma decisão que jamais existiu é um ato que compromete irremediavelmente a confiança no advogado e no escritório. A descoberta da falha, seja pela parte contrária ou pelo próprio julgador, coloca em xeque a diligência profissional e a pesquisa realizada, podendo levar a questionamentos sobre a conduta ética do profissional perante a Ordem.
Em segundo lugar, a consequência mais prática é a perda do caso. Se uma estratégia jurídica inteira é construída sobre um precedente que é, na verdade, uma miragem digital, o argumento se desfaz. O tempo investido na elaboração da tese, na análise e na redação é desperdiçado, levando à derrota do cliente. Além do prejuízo processual, isso acarreta danos materiais e reputacionais que corroem a carteira de clientes e dificultam o crescimento do negócio.
Por fim, a dependência dessas IAs genéricas gera uma necessidade constante de reverificação e checagem manual de cada output, justamente o processo que se buscava otimizar. Ao invés de ganhar agilidade, o profissional se vê obrigado a gastar um tempo precioso para validar cada citação, tornando a suposta ajuda em um obstáculo à produtividade e à segurança jurídica. A economia de tempo prometida se transforma, ironicamente, em um risco oneroso e desnecessário.
Por que IAs genéricas não servirão ao rigor do Direito?
O ponto crucial é simples: o Direito exige precisão factual, algo que os chats de inteligência artificial de uso geral não foram projetados para garantir. Já que seu objetivo é gerar uma resposta fluida e coerente, e não consultar ou citar fontes primárias de maneira auditável. Por isso, a jurisprudência inexistente não é uma falha rara, mas sim um risco inerente ao seu design.
No ambiente jurídico, parecer certo é fatalmente diferente de estar certo. Confiar a análise de um caso ou a busca por um precedente a um modelo de linguagem treinado com a internet é colocar a credibilidade da sua tese e a segurança do seu cliente nas mãos da probabilidade estatística. Não existe atalho seguro quando o seu argumento precisa ser embasado na realidade jurídica.
É neste cenário que a Inspira se estabelece como a alternativa confiável e indispensável para a advocacia. Diferentemente das IAs genéricas, que alucinam para preencher lacunas, a Inspira foi projetada especificamente para o Direito brasileiro, com foco total em precisão e rastreabilidade.
Nossa base de dados é composta por informações jurídicas reais, seguras e atualizadas diariamente, cobrindo mais de 70 Tribunais brasileiros. Cada resposta que você recebe não é uma previsão de texto, mas sim uma análise baseada em fontes primárias.
Mas a segurança da Inspira vai além da base de dados. Entendemos que a precisão técnica no Direito exige um olhar humano especializado. Por isso, o core da nossa ferramenta é supervisionado por especialistas e advogados que atuam na calibração contínua dos prompts e base de dados. Essa curadoria garante que não apenas localizemos a informação correta, mas também a interpretamos e a apresentamos com a profundidade e a precisão técnica que o seu trabalho exige.
Não arrisque sua credibilidade
A advocacia é uma profissão que exige rigor, precisão e confiança. Em um cenário onde um único erro pode comprometer um caso inteiro e manchar uma reputação, não há espaço para alucinações. Os erros de IAs genéricas são um risco que nenhum profissional do Direito pode se dar ao luxo de correr.
Deixe as ferramentas genéricas para tarefas cotidianas. Para a sua prática jurídica, escolha a segurança, a precisão e a inteligência de uma ferramenta criada por e para advogados.