16 de dez. de 2025
Como as soft skills definirão a excelência jurídica na era da IA
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carreira jurídica
Recentemente, um comentário circulou pela comunidade jurídica e causou uma surpresa: um advogado confessou preferir usar inteligência artificial a delegar tarefas para um advogado júnior. Publicada pelo Artificial Lawyer (2025), essa declaração provocou reações imediatas, mas, no fundo, revelou algo que muitos já intuíam. Não se trata apenas de uma prova da eficiência crescente da tecnologia, mas de um sintoma de uma discussão muito mais profunda: o papel crítico das soft skills na era da IA.
A escolha desse advogado, contudo, não nasceu de má vontade, mas do cansaço. Treinar um júnior exige tempo, revisões cuidadosas e, muitas vezes, conversas difíceis sobre erros e melhorias. Em contrapartida, a IA entrega um rascunho em segundos, sem frustrações, sem perguntas excessivas e sem dúvidas. Para um profissional pressionado por prazos e demandas incessantes, essa decisão parece lógica. Mas essa lógica, embora confortável no curto prazo, esconde um risco que o mundo jurídico não pode ignorar.
Quando a solução começa a parecer perfeita a narrativa ganha novos contornos. Ao privilegiar apenas a velocidade da IA, os escritórios correm o risco de diluir aquilo que sustenta a essência da advocacia.
Dentro dessa essência mora tudo aquilo que nenhum sistema consegue substituir. O julgamento que só floresce com a experiência. Os vínculos que se constroem no olho no olho. A sensibilidade de perceber nuances que nenhum algoritmo foi treinado para reconhecer. Quando esses elementos começam a se perder, a prática jurídica deixa de ser profunda e se torna apenas funcional.
Diante do risco de se perder o toque humano na essência da prática, as soft skills ressurgem, não como habilidades secundárias, mas como o verdadeiro alicerce da prática jurídica na era da inteligência artificial.
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A IA avança, mas ainda precisa das nossas habilidades humanas
Essa percepção de urgência humana não é isolada; diversas instituições vêm reforçando essa realidade. A Association for Talent Development (ATD) explica que, no ambiente de trabalho do futuro, soft skills permanecerão no centro das operações.
A IA automatiza tarefas, mas não possui empatia. Não compreende expressões emocionais. Não toma decisões com base em valores. Por isso, empatia, comunicação clara, criatividade e pensamento crítico seguem essenciais para orientar o uso da tecnologia.
A própria ATD destaca ainda que, embora a IA gere respostas com enorme velocidade, cabe ao advogado avaliar se essas respostas respeitam padrões éticos e humanos.
A tecnologia oferece possibilidades. Mas apenas o pensamento crítico valida se essas possibilidades são seguras, responsáveis e juridicamente sensatas.
Essa necessidade de validação crítica nos lembra que a advocacia sempre foi e sempre será sobre relações e discernimento.
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A "meia vida" em declínio das habilidades técnicas
A capacidade de analisar dados e redigir documentos será cada vez mais uma commodity, enquanto a habilidade de interagir, persuadir e conectar-se com outras pessoas se tornará o ativo mais valioso.
A Harvard Business Review(2025) reforça esse cenário ao demonstrar que profissionais que aliam competências técnicas e humanas são os que mais avançam na carreira. A pesquisa revela que empatia, comunicação, colaboração e capacidade de resolver problemas têm impacto direto em salários mais altos e maior ascensão profissional.
Contudo, a valorização das habilidades humanas na era da IA também se acentua, pois a durabilidade das habilidades técnicas está diminuindo rapidamente.
A chamada meia vida do conhecimento técnico caiu de dez anos para quatro e pode cair para menos de dois anos. Isso significa que a cada poucos anos o profissional precisa reaprender quase tudo o que diz respeito à tecnologia.
Em contraste, as soft skills — como pensamento crítico, comunicação e capacidade de adaptação — permanecem relevantes ao longo de toda a carreira e da vida. Elas são a base que permite interpretar com pensamento crítico, tomar decisões conscientes e lidar com o impacto das escolhas geradas por tecnologias como a inteligência artificial. Não basta apenas saber operar a ferramenta; é preciso entender o que seus resultados realmente significam e como aplicá-los com responsabilidade.
A IA acelera o tempo, mas o valor continua sendo humano
Escritórios e departamentos jurídicos que entenderem essa dinâmica estarão muito à frente dos demais. A IA não tem conhecimento jurídico para determinar o que constitui uma situação em que ambas as partes se beneficiam. Ela não possui maturidade para definir a melhor estratégia para um litígio. Não compreende riscos reputacionais. Não sente o clima de uma negociação tensa.
Uma IA desenvolvida por especialistas do universo jurídico, como a Inspira, pode oferecer algo precioso. Ela pode devolver tempo. E esse tempo pode ser usado para aquilo que apenas advogadas e advogados sabem fazer: analisar, questionar, interpretar, orientar e decidir.
Soft skills não são acessórios. São a verdadeira fonte de vantagem competitiva na advocacia contemporânea. A tecnologia avança. A pressão aumenta. Os desafios se multiplicam. E justamente por isso, aquilo que nos torna humanos se torna ainda mais indispensável.




